Por: Redação Portal Democrata
Foto Destaque: Divulgação
No início desse mês, cerca de 250 produtores de amendoim, pesquisadores, beneficiadores, investidores e outros profissionais do segmento se reuniram em Itaju (SP) para falar sobre as expectativas do mercado para a safra de 2023/24 e apresentar as principais novidades em pesquisa e desenvolvimento de variedades e linhagem de sementes, que devem ajudar a confirmar a liderança do País na exportação de óleo amendoim.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), mesmo sendo apenas o 12º produtor de amendoim do mundo em 2023, o Brasil detém o primeiro lugar na exportação de óleo de amendoim, com 86 mil toneladas comercializadas.
Para Rodrigo Chitarelli, diretor presidente da CRAS Brasil e responsável por organizar o evento em Itaju (SP), a liderança brasileira poderia ser muito mais folgada. “O mercado chinês, responsável por 80% das compras do óleo de amendoim brasileiro, demandou ainda mais o nosso produto no último ciclo. Em 2023, todo o volume que produzimos, vendemos. Se incentivarmos o plantio, aumentando a colheita e proporcionando um grão com melhor qualidade, teremos uma maior produção de matéria-prima e conseguiremos crescer a quantidade de óleo exportada de forma natural”, comentou o executivo. Ele ressaltou também que, atento às oportunidades de evolução do mercado, dobrou a capacidade instalada da sua fábrica no último ano, passando a ter potencial de produção de 400 toneladas do produto por dia.
Rodrigo Chitarelli, diretor presidente da CRAS Brasil, empresa que liderou a exportação brasileira de óleo de amendoim em 2023
Conforme dados da CONAB, a safra 2023/24 de amendoim deve ter números positivos no país, com um aumento de 15% de área plantada e de 2% na produção. Essa diferença no percentual entre plantio e produção é justificada principalmente pelo clima.
“As provisões são permeadas por expectativas que consideram queda em produtividade com consequências para a produção. As condições climáticas, chuvas irregulares e altas temperaturas pontuam esse cenário que também pode comprometer a qualidade do grão. Esse contexto pode interferir nas exportações do amendoim em grão e do óleo de amendoim, que registraram, em 2023, alta nas cotações e espaço para evoluir no mercado externo, que constitui um importante canal de comercialização para os produtos da cadeia de produção do amendoim”, comentou uma das palestrantes do evento em Itaju, Renata Martins Sampaio, pesquisadora científica do IEA – Instituto de Economia Agrícola – ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo.
Renata Martins Sampaio, pesquisadora científica do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vê espaço para amendoim evoluir no mercado externo
Chitarelli ressaltou que esta instabilidade climática não impactará a produção de óleo de amendoim ao longo do ano na região. “Mesmo com o estresse hídrico no amendoim provocado pela falta de chuvas regulares no final da safra 23/24, o que gerou um atraso na colheita entre 15 a 30 dias, as chuvas abundantes de fevereiro farão muito bem para a safra e ajudarão a atingirmos as estimativas iniciais”, comentou.
As variedades de sementes apresentadas em Itaju (SP)
São Paulo é responsável por 90% da produção brasileira de amendoim e o município de Itaju, localizado na parte central do estado, vem se consolidando como a capital nacional do óleo de amendoim. Em 2023, a cidade foi responsável por mais de 28% das exportações do produto, alcançando o topo do ranking nacional.
O Dia de Campo dos Produtores de Amendoim Safra 2023/24, aconteceu no campo de pesquisa e desenvolvimento sustentável do amendoim da CRAS Brasil e contou com a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Instituto Agronômico (IAC) de Campinas, que apresentaram dezenas de variedades e linhagens de sementes.
O IAC, que possui 80% das cultivares plantadas no Brasil e foi representado pelo pesquisador Ignácio Godoy (foto abaixo), apresentou 16 cultivares de amendoim, desde as oito atuais disponíveis no mercado e até os futuros lançamentos. “O objetivo é trabalhar para um produtor mais tecnificado, que faz a colheita e o arranquio do amendoim de forma mecanizada, tanto para a indústria de confeitaria como a de exportação”, comentou.
Ciclo entre 125 e 130 dias: a IAC OL 3 (grãos arredondados com predominância dos calibres 38/42 e 40/50 e teor de óleo entre 46 e 47%) e a IAC OL 4 (grãos tipo “runner”, de formato arredondado, com predominância de calibre 40/50 e teor de óleo ao redor de 47%). Ambas suscetíveis às doenças foliares, com produtividade média de 4.500 kg ha-1 e potencial que pode ultrapassar 7.000 kg ha-1, grãos “alto oleicos” com 70 a 80% de ácido oleico e estande ideal (depois da emergência) de 17-18 plantas/m.
Ciclo entre 130 e 135 dias: IAC OL 5 (grãos tipo “runner”, com maior proporção de calibre 40/50, e produtividade média de 4.500 kg ha-1, com potencial para 6.000 kg ha-1). É uma variedade “alto oleica” (com 70 a 80% de ácido oleico), com moderada resistência à mancha preta e ferrugem e moderada tolerância ao vírus GRSV e a estresse hídrico, além de estande ideal (depois da emergência) de 15-16 plantas/m.
Ciclo de 130 a 140 dias: são quatro variedades no total. A IAC 505 (grãos tipo “runner”, com maior proporção de calibre 40/50 e com teor de óleo próximo de 50%), IAC OL6 (grãos tipo “runner”, arredondados, com predominância de 38/42 ou maiores e com teor de óleo ao redor de 48%) e IAC 677 (grãos tipo “runner”, com maior proporção de calibres 40/50 e 38/42 e com teor de óleo entre 48%). As três possuem moderada resistência a doenças foliares (mancha preta e ferrugem), moderada tolerância ao vírus GRSV e a estresse hídrico, além de produtividade média de 4.500 kg ha-1 (com potencial para 6.500 kg ha-1 no caso da IAC 505 e da IAC OL6, e para 7000 kg ha-1 no caso da IAC 677).
Já a IAC Sempre Verde, que também tem ciclo entre 130 e 140 dias, consegue atingir uma produtividade média de 5.000 kg ha-1 sem aplicação de fungicida, apresentando alta resistência a doenças foliares (mancha preta e ferrugem); produzindo vagens de duas sementes, com grãos vermelhos de tamanho pequeno, arredondados e uniformes que tem teor de óleo entre 47 e 48 %. Essa variedade é uma boa opção comercial para produção de óleo e mercado de orgânicos.
Ciclo de 140 dias, podendo estender-se até os 150 dias: a IAC 503 com grãos tipo “runner”, alongados, com predominância de calibres 38/42 e 40/50 e teor de óleo ao redor de 48%, possui produtividade média de 4.500 kg ha-1, com potencial para 6.500 kg ha-1. Essa cultivar apresenta moderada resistência a doenças foliares (mancha preta e ferrugem) e moderada tolerância ao vírus GRSV e ao estresse hídrico. O estande ideal (depois da emergência) é de 13-14 plantas/m.