Por: Redação/PD
Foto divulgação/AFP
O comércio ilegal de madeira das florestas antigas de Moçambique para a China, avaliado em US$ 23 milhões anuais, está financiando uma insurgência islâmica brutal e alimentando uma vasta rede criminosa no norte do país. A venda de pau-rosa, uma madeira tropical valorizada na China para a fabricação de móveis de luxo, é um fator central nesse processo.
Segundo um relatório da Agência de Investigação Ambiental (EIA), a má gestão das concessões florestais, a derrubada ilegal de árvores e a corrupção nas autoridades portuárias estão facilitando a expansão desse comércio. Os insurgentes em Cabo Delgado, ligados ao grupo autodenominado Estado Islâmico, têm utilizado esses recursos para financiar suas operações e recrutar novos membros, inclusive na província vizinha de Nampula.
A EIA identificou que aproximadamente 30% da madeira extraída em Cabo Delgado provêm de áreas controladas por insurgentes, que cobram uma “taxa de proteção” de 10% das empresas que exploram ilegalmente a madeira. Essas operações geram receitas estimadas em US$ 1,9 milhão por mês para os militantes, conforme revelado no relatório Avaliação Nacional dos Riscos de Financiamento do Terrorismo, divulgado pelo governo moçambicano.
Apesar de existir um tratado internacional que limita o comércio de pau-rosa para proteger a espécie, falhas na fiscalização e a alta demanda chinesa mantêm o comércio ilegal ativo. As investigações da EIA rastrearam 300 contêineres de pau-preto – uma madeira ameaçada – do porto da Beira em Moçambique até a China entre outubro de 2023 e março de 2024. A madeira, avaliada em cerca de US$ 18 milhões, foi exportada em violação às leis moçambicanas que proíbem a exportação de madeira não processada.
Grandes companhias de navegação, como Maersk e CMA-CGM, são implicadas no transporte dessa madeira, embora afirmem estar comprometidas com a legalidade. Ambas as empresas ressaltam que dependem das autoridades alfandegárias para verificar a carga, uma vez que os contêineres são lacrados pelos clientes antes do embarque.
A crise humanitária em Cabo Delgado, agravada pela insurgência, resultou no deslocamento de mais de um milhão de pessoas, além de uma série de atrocidades cometidas contra civis, incluindo massacres, decapitações, estupros e sequestros. Com o governo moçambicano focado em proteger a população, a defesa das florestas e a aplicação de uma gestão sustentável dos recursos naturais tornam-se ainda mais desafiadoras.
O desmatamento avança rapidamente em Moçambique, com a perda de cobertura florestal equivalente a mil campos de futebol por dia, segundo a ONG Global Forest Watch. O pau-rosa tornou-se o produto florestal mais traficado do mundo, superando em valor o comércio ilegal de chifres de elefantes e rinocerontes, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Especialistas defendem que, além de fortalecer a legislação, é crucial implementar um sistema de rastreamento eficaz para combater esse comércio ilegal. No entanto, em regiões de conflito como Cabo Delgado, a conservação ambiental enfrenta enormes desafios, e a prioridade imediata permanece sendo a segurança e a estabilidade para os moradores locais.