Relatório Trimestral de Inflação destaca recuperação da indústria e dos serviços como motores do crescimento, enquanto agronegócio segue impactado por condições climáticas adversas. Expectativa é de inflação acima da meta até 2027
O Banco Central (BC) revisou para cima as projeções de crescimento da economia brasileira para 2024, prevendo agora uma alta de 3,2% no Produto Interno Bruto (PIB). O dado foi divulgado nesta quinta-feira (26) no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que indicou um avanço de quase 1 ponto percentual em relação à estimativa anterior de 2,3%. Esse ajuste reflete uma perspectiva otimista quanto à expansão dos setores de serviços e indústria, embora o agronegócio siga pressionado por adversidades climáticas.
De acordo com o BC, o setor de serviços deve crescer 3,2%, acima dos 2,4% previstos anteriormente, enquanto a indústria projeta uma alta de 3,5%, frente aos 2,7% previstos. Já o agronegócio, afetado por eventos climáticos extremos, teve sua previsão de retração ajustada de -2% para -1,6%. O consumo das famílias também surpreendeu positivamente, com projeção de alta de 4,5% para 2024, em comparação aos 3,5% anteriores.
Além do crescimento do PIB, as exportações também registraram uma revisão significativa. A expectativa agora é de uma alta de 3,2%, muito superior aos 0,5% previstos anteriormente. As importações, por outro lado, devem crescer 11,3%, quase o dobro da estimativa anterior de 6%. O saldo comercial do Brasil, que havia sido projetado em US$ 59 bilhões, foi elevado para US$ 68 bilhões.
Investimento estrangeiro e balanço de pagamentos
O Relatório Trimestral também trouxe uma projeção mais otimista para o Investimento Direto no País (IDP), que deve alcançar US$ 70 bilhões até o fim do ano, contra uma previsão anterior de US$ 65 bilhões. Já o saldo de investimentos estrangeiros em carteira, que inclui ações e títulos, foi revisado para US$ 12 bilhões, após uma estimativa inicial de zero.
Para o próximo ano, o BC projeta um déficit em transações correntes de US$ 60 bilhões, compensado por um superávit comercial estimado em US$ 64 bilhões. Mesmo com um cenário de balanço de pagamentos desafiador, o BC acredita que o IDP continuará desempenhando um papel fundamental para o financiamento externo do país.
Inflação acima da meta
Apesar do otimismo em relação ao crescimento econômico, o BC mantém uma postura cautelosa em relação à inflação. O Relatório de Inflação estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano de 2024 em 4,31%, e continuar acima do centro da meta, de 3%, pelo menos até o início de 2027.
Segundo as previsões do BC, a inflação deve permanecer elevada nos próximos meses, impulsionada por fatores como o aumento dos preços dos alimentos, resultado de uma oferta reduzida devido ao clima seco, e pelo encarecimento dos serviços, principalmente passagens aéreas. Produtos industriais também deverão sofrer alta de preços, refletindo a depreciação cambial e o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre determinados itens, como cigarros.
O relatório reforça ainda que a pressão inflacionária será atenuada pela queda nos preços internacionais do petróleo, o que deverá impactar os preços da gasolina. Porém, a alta nos preços da energia elétrica pode continuar pressionando o índice inflacionário.
Cenário econômico e política monetária
Embora o cenário inflacionário exija atenção, o BC destacou que a atividade econômica mais forte do que o esperado contribuiu para a elevação das projeções. Esse aumento do crescimento elevou o chamado “hiato do produto” — a diferença entre a capacidade produtiva total da economia e o nível atual de produção — o que, aliado à depreciação cambial, justificou o aumento das expectativas de inflação.
Mesmo com a elevação das taxas de juros promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para conter a inflação, o BC alerta que a convergência da inflação para o centro da meta só deve ocorrer após 2027, sinalizando um longo período de aperto monetário pela frente.
Por: Redação
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