Registros quase dobram em meio a promessas de restrição no governo Lula; especialistas analisam fenômeno
Apesar das restrições anunciadas pelo governo Lula, o Brasil vive um aumento expressivo no número de Caçadores, Atiradores e Colecionadores de armas (CACs). Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Exército indicam que os registros saltaram de 803 mil em julho de 2023 para quase 2 milhões até dezembro de 2024.
Essa expansão ocorre em um cenário de medidas mais rígidas, como a redução no limite de armas e munições, maior fiscalização e a revisão de registros pela Polícia Federal (PF) e pelo Exército.
Por que os números continuam crescendo?
Especialistas atribuem o crescimento a fatores acumulados no período de flexibilização armamentista durante o governo Bolsonaro. Entre 2019 e 2022, foram ampliados os limites de aquisição, desburocratizados processos e liberados calibres antes restritos.
Segundo a criminalista Mariana Félix, a antecipação de mudanças nas regras impulsionou a regularização de armas antes do início do governo Lula. “Houve uma corrida para se adequar à legislação, temendo que armas adquiridas legalmente se tornassem ilegais com as mudanças”, explica.
Outro fator determinante foi a explosão de clubes de tiro, que tornaram o acesso às atividades esportivas relacionadas às armas mais popular, atraindo novos entusiastas.
A transferência da fiscalização dos CACs do Exército para a Polícia Federal, inicialmente prevista para janeiro de 2025, foi adiada em pelo menos seis meses. Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a transição exige investimentos em infraestrutura e pessoal.
Atualmente, o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma) do Exército está sendo integrado à plataforma Sinarm da PF. Contudo, a corporação ainda depende da realização de concursos públicos e da publicação de um decreto para a criação de um departamento exclusivo para controle de armamentos.
O aumento de registros mantém o tema no centro das discussões sobre segurança pública e controle de armas no Brasil. Enquanto defensores do desarmamento questionam os riscos da proliferação de armas, apoiadores dos CACs destacam o direito à posse e ao uso regulamentado.
O governo Lula segue com esforços para endurecer o controle, mas o impacto das medidas anteriores, aliado à demora na reestruturação administrativa, sustenta o crescimento da categoria. O fenômeno reflete um Brasil em transição entre políticas opostas, enquanto a questão das armas permanece como uma das mais polarizadoras no cenário político e social.
Por: Redação
Foto: Hosein Charbaghi/Unsplash