Banco Central elevou juros, mas especialistas alertam para impactos inflacionários das medidas protecionistas dos EUA
As novas tarifas anunciadas pelo governo de Donald Trump contra seus principais parceiros comerciais reacenderam preocupações inflacionárias no Brasil. A medida veio logo após o Banco Central adotar o que muitos analistas consideraram uma postura branda sobre os riscos econômicos da guerra comercial.
Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, para 13,25%, seguindo seu plano de controle da inflação. No entanto, ao detalhar o cenário econômico, a instituição destacou que choques no comércio internacional poderiam, paradoxalmente, ter um efeito desinflacionário para economias emergentes, minimizando os impactos negativos da escalada protecionista dos EUA.
Dois ex-diretores do BC, ouvidos sob anonimato pela Reuters, discordaram da avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom). “O cenário é claramente inflacionário para o Brasil, com risco adicional de o país ser alvo direto das tarifas, o que poderia pressionar ainda mais a moeda e os preços internos”, alertou um deles.
Mercado reage e real oscila
Nesta segunda-feira (3), o real chegou a se desvalorizar mais de 1% frente ao dólar, acompanhando a instabilidade nos mercados globais após o anúncio das tarifas por Trump contra México, Canadá e China. No entanto, a moeda recuperou parte das perdas após o presidente norte-americano concordar em adiar as taxas para produtos mexicanos por um mês, após uma conversa com a presidente Claudia Sheinbaum.
A volatilidade cambial preocupa economistas, já que o real acumula uma perda de mais de 20% nos últimos 12 meses, pressionando os preços e aumentando os desafios para o controle inflacionário.
Impacto nas taxas de juros dos EUA
O economista Márcio Estrela, ex-servidor do Banco Central, ressaltou que a implementação total das tarifas pode ter reflexos globais. “Se os EUA mantiverem a política protecionista, haverá um impacto inflacionário interno, reduzindo as chances de um corte de juros pelo Fed”, avaliou.
A ata da última reunião do Copom será divulgada na terça-feira (4) e deve trazer novas sinalizações sobre a visão do Banco Central a respeito da conjuntura internacional e seus impactos para a economia brasileira.
Por: Manoel Messias
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