SBPC e Academia Brasileira de Ciências saem em defesa da professora da UFRJ, que questionou posturas do CFM durante a pandemia
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) emitiram uma nota conjunta em defesa da médica Ligia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), processada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por declarações críticas à atuação da entidade.
O CFM acusa Ligia de difamação e exige uma indenização de R$ 100 mil por falas proferidas em entrevista ao canal O Conhecimento Liberta (ICL), no YouTube. Na ocasião, a médica condenou o apoio da entidade ao uso da cloroquina para tratar a Covid-19 e criticou a falta de incentivo à vacinação durante a pandemia.
Críticas à postura do CFM
Além das declarações sobre a pandemia, Ligia Bahia questionou a atuação do CFM em relação à legislação vigente sobre aborto. A professora argumentou que a postura da entidade contra a interrupção da gravidez em casos previstos em lei, como estupro, demonstra um afastamento dos princípios científicos.
“Apoiar medidas sem base em evidências compromete a credibilidade da instituição e coloca em risco a saúde pública”, afirmou a médica na entrevista.
Reação da comunidade científica
A nota de apoio assinada pelos presidentes da SBPC, Renato Janine Ribeiro, e da ABC, Helena Bonciani Nader, ressalta que as críticas da médica estão alinhadas com consensos científicos amplamente reconhecidos. As entidades alertam que o processo movido pelo CFM pode configurar um ataque à liberdade acadêmica e científica no Brasil.
“A tentativa de punição por expressar opiniões baseadas em evidências contraria princípios fundamentais da ciência e da democracia”, afirma o comunicado.
O caso gerou ampla repercussão, mobilizando pesquisadores e profissionais de saúde, que veem na ação do CFM um risco à autonomia das instituições científicas e educacionais.
Por: Lucas Reis
Foto: Reprodução/ Leonor Calazans/ USP