Alckmin conversa hoje com Secretário de Comércio dos EUA para tentar evitar sanções sobre o aço e o alumínio
O discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Congresso norte-americano na noite de terça-feira (5) repercutiu nos mercados internacionais. Durante a fala de 1h40min, Trump criticou tarifas aplicadas por países como o Brasil e anunciou medidas de retaliação comercial. Entre as sanções está a imposição de uma taxa de 25% sobre a importação de aço e alumínio, que entra em vigor em 12 de março. A decisão levou China e Canadá a anunciarem represálias.
Diante do cenário de incertezas, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, busca uma solução diplomática. Hoje, ele se reúne por videoconferência com o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, às 17h30. O governo brasileiro e o setor industrial apostam em uma resolução negociada para evitar impactos na economia nacional.
Brasil na encruzilhada
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a guerra tarifária entre EUA e China impactará o Brasil direta e indiretamente. “O atual cenário é incerto. No curto prazo, o Brasil pode até se beneficiar substituindo os EUA como fornecedor de alimentos para a China, mas essa vantagem não se sustentará”, avaliou.
O economista reforça a necessidade de uma estratégia diplomática cautelosa. “O Brasil deve evitar reações impulsivas. Se essa crise persistir, 2025 pode ser um ano perdido, sem investimentos e sem direção clara para o setor industrial”, alertou.
Impacto no comércio exterior
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca que, apesar da maior aproximação com a China, o Brasil pode perder ainda mais espaço no comércio com os EUA. “O país já possui um déficit comercial com os EUA no setor industrial. Se as tarifas se mantiverem, essa diferença deve se aprofundar, forçando o Brasil a fortalecer laços comerciais com a China”, explicou.
Trump também anunciou a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, isentando temporariamente três grandes montadoras globais: Ford, General Motors e Stellantis (dona das marcas Fiat, Chrysler, Jeep, Peugeot e Citroën). A decisão frustrou expectativas de um alívio tarifário mais amplo para a indústria automobilística.
O economista Paul Ashworth, da Capital Economics, avalia que a isenção às montadoras é temporária e que, em abril, Trump deve ampliar as tarifas para o setor automotivo europeu e asiático. “O governo está apenas concedendo um fôlego curto para as montadoras antes de endurecer ainda mais as sanções”, disse.
Expectativa do setor agropecuário
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) preferiu não se manifestar sobre o impacto das medidas para o setor. “A questão ainda é recente. Seguimos acompanhando os desdobramentos para avaliar eventuais efeitos nas exportações de carne bovina”, informou a entidade, que representa 98% da carne brasileira exportada.
O governo brasileiro segue mobilizado para evitar que as tarifas prejudiquem a indústria nacional e aguarda o resultado da reunião entre Alckmin e Lutnick para definir os próximos passos.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Reuters