Presidente interino do partido reconhece tensão e defende que a disputa é natural, mas alerta para impacto no governo Lula
A sucessão da presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), após a saída da deputada federal Gleisi Hoffmann para assumir um ministério no governo Lula, tem gerado uma crise interna. A disputa, que envolve diferentes alas da sigla, se intensificou com a indicação do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente interino do partido, senador Humberto Costa, admitiu que houve forte turbulência e vazamentos indesejados para a imprensa, mas garantiu que medidas estão sendo tomadas para pacificar a situação.
A resistência à indicação de Edinho Silva parte de uma ala que busca manter o controle sobre as secretarias de Tesouraria e Comunicação do PT, setores estratégicos que dispõem de mais recursos. O impasse ocorre em um momento delicado para Lula, que enfrenta desafios na economia e queda de popularidade, agravando o cenário para as eleições de 2026.
A crise se instalou após mudanças na gestão do governo. Alexandre Padilha, ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais, foi deslocado para o Ministério da Saúde, substituindo Nísia Trindade. Em seu lugar, Gleisi Hoffmann assumiu a articulação com o Congresso, deixando a presidência do PT, que passou interinamente para Humberto Costa.
A oposição de Hoffmann ao nome de Edinho levou ao acirramento da disputa dentro do grupo majoritário do partido, o Construindo um Novo Brasil (CNB), do qual Lula também faz parte. A situação tem sido vista como uma fratura dentro da principal corrente petista. Humberto Costa afirmou que, embora as disputas por espaços sejam naturais, a forma como o debate está ocorrendo não pode prejudicar a gestão do governo.
Durante uma reunião com a CNB, Lula reconheceu as divergências e pediu que as lideranças dialogassem com Edinho, destacando a importância de um consenso dentro da sigla. “Não pode haver uma parcela significativa do grupo que não concorde, pois isso compromete a unidade do partido”, teria dito o presidente.
Em nota oficial, a coordenação da CNB esclareceu que a escolha de Humberto Costa como presidente interino foi definida até a realização do Processo de Eleição Direta (PED) em julho deste ano. A nota também criticou a exposição midiática da crise: “Divergências internas são naturais, mas têm sido instrumentalizadas para desqualificar o partido e sua democracia interna”.
A instabilidade no PT reflete um momento desafiador para o governo Lula, que precisa garantir coesão dentro da legenda para fortalecer sua base e minimizar os impactos da crise na gestão federal.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Getty Images