Cultura do brasileiro ainda é de desperdício. Somente em 2022, o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), detectou que o desperdício de água daria para atender a uma população de 124 mil pessoas
Por: Sidney Araujo
Foto Destaque: Divulgação
O ser humano instintivamente ativa o “estado de alerta” diante de um risco iminente, como atravessar uma rua movimentada ou ouvir soar um alarme de incêndio. Por outro lado, o risco do aquecimento global, por ser um acontecimento de longo prazo, não desperta o mesmo sentimento, embora possa ser uma situação igualmente grave.
Situação similar acontece com a água. O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo e esta situação confortável tem levado a sociedade a negligenciar seu uso. O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) aponta que o Brasil desperdiçou, somente em 2022, cerca de 7,0 bilhões de metros cúbicos de água. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o consumo médio de água por pessoa no Brasil é de 154 litros. Desse modo, a partir de cálculos, é possível determinar que a quantidade desperdiçada em 2022 seria suficiente para atender uma população de 124 mil pessoas durante um ano.
Nesse cenário, medidas para mitigar os impactos ambientais no setor industrial tornam-se cada vez mais necessárias, pois para alguns, o sentimento de urgência já despertou, e levou ao desenvolvimento de projetos que valem ser lembrados neste 22 de março, Dia Mundial da Água. Na cidade de Hidrolândia, em Goiás, uma indústria de laticínios traz um bom exemplo como a cooperação e as inovações em sustentabilidade podem fazer a diferença. Desde 2018, a Marajoara Laticínios desenvolve um projeto em parceria com produtores rurais locais, que garante produtividade para eles e uma gestão eficiente dos resíduos hídricos produzidos pela indústria.
Marajoara Laticínios desenvolve projetos de sustentáveis para manejo hídrico em Goiás
Por meio de uma estação de tratamento de efluentes (ETE), instalada no parque fabril da empresa, a Marajoara não só consegue tratar de forma correta toda a água residual oriunda dos deus processos de produção, como ajuda os produtores de leite local a manterem a produtividade do pasto, mesmo em períodos de grande seca como o atual. E a água também é reutilizada antes de retornar ao solo.
Vale ressaltar que, de acordo com o Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil, publicado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana), o setor da indústria é o terceiro maior consumidor de água no Brasil, sendo que do total de água extraída por esse campo, 40,5% é destinada para a produção de alimentos, percentual que só tende a aumentar dado o avanço da indústria no país. Em 2024, o crescimento do setor bateu 8,4% segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços em relação ao ano anterior.
De acordo com Vinícius Junqueira, diretor geral Marajoara, isso é possível graças ao processo de flotação de ar dissolvido (FAD) que é usado pela ETE para tratar a água residual da indústria. “Nesse processo a água é purificada a um nível superior a 90%, bem acima do que exige a legislação ambiental. Dessa separação entre a água e as impurezas, é gerado uma biomassa orgânica que é rica em nutrientes que são importantíssimos para o solo. No passado, nós a direcionávamos para uma fazenda de compostagem, mas depois de constatarmos, por meio de estudos, que ele poderia adubar o solo, nós passamos a direcionar, por meio de caminhões pipa, a biomassa para pastos de produtores rurais que temos cadastrados aqui na empresa”, explica Vinícius.
Em paralelo, outra ação de sustentabilidade ambiental. Após a água passar pela nossa ETE e ser tratada, ela é direcionada, por meio de tubulação, para um pasto destinado a criação de gado de corte, distante um quilômetro do parque fabril. Por meio de um sistema de irrigação, composto por cerca de 600 aspersores, essa água mantém o pasto sempre verde, inclusive nas épocas de seca
Vinícius informa que, em média, serão jorradas no local 75 mil litros de água por hora, a cada 12 horas. No total, são um milhão de litros de água de reuso reaproveitados. Após contribuir para a qualidade da pastagem, a água é absorvida e retorna para o lençol freático, completando assim o ciclo da água.
As iniciativas foram avaliadas e validadas por meio de um estudo técnico feito pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás. Em 2021, a iniciativa foi uma das premiadas nacionalmente pelo Crea de Meio Ambiente, sendo a grande ganhadora na categoria Elementos Naturais.