Presidente admite demora na apuração, defende profundidade nas investigações e cobra ressarcimento completo aos aposentados prejudicados
Em declaração neste sábado (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro a origem da fraude bilionária no INSS, alvo da Operação Sem Desconto da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União. Durante entrevista ao final de sua viagem oficial à Rússia, Lula afirmou que o esquema foi articulado por entidades criadas para cometer crimes e que começaram a atuar em 2019.
“A quadrilha foi criada em 2019. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019?”, ironizou o presidente, em clara referência ao seu antecessor. Sem citar nomes, Lula também insinuou que ministros da Casa Civil e da Previdência à época devem ser investigados.
O caso envolve descontos ilegais de pelo menos R$ 6 bilhões em aposentadorias e pensões, sem autorização dos beneficiários. O presidente reconheceu a demora na resposta do governo, mas justificou a cautela com a necessidade de apurar o esquema com base em inteligência, sem buscar holofotes. “Se tivesse feito um carnaval um ano atrás, possivelmente teria parado no carnaval”, afirmou Lula. “Não queremos manchetes. Queremos justiça.”
Segundo Lula, parte das entidades envolvidas se disfarçava de instituições legítimas para enganar aposentados. “O mais grave é que o dinheiro não saiu dos cofres do INSS, saiu do bolso do povo. Foi um assalto a quem mais precisa”, destacou.
Governo promete ressarcimento total, mas ainda avalia impacto
Lula disse que o governo ainda está sistematizando os dados para identificar o número exato de vítimas. “As vítimas não serão prejudicadas. Vamos congelar os bens de quem roubou para devolver o que for possível”, declarou. De acordo com o presidente, será preciso verificar quais descontos foram feitos sem autorização e separar esses casos daqueles em que houve consentimento formal.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que a AGU já bloqueou valores suficientes nas contas de sindicatos e associações para garantir parte do ressarcimento. Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que, se necessário, a União complementará os recursos com dinheiro público.
A fraude passou a ser monitorada ainda em 2018, mas se agravou a partir de 2023, após a revogação de um mecanismo de controle de descontos autorizada por Bolsonaro em 2022. Para Lula, o caso reforça a importância de reformas no sistema previdenciário. “Temos que proteger os aposentados, não expô-los”, concluiu.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Ricardo Stuckert/PR